A EMOÇÃO DA FOTOGRAFIA DE RUA
A emoção de quem fotografa, sem dúvida.
A esperança pelo inesperado. A dúvida sobre o enquadramento. A inquietação do resultado da focagem. O enfrentar e vencer os receios, de estar a ser demasiado intrusivo. As adversidades colocadas pela direcção da luz e da sua intensidade e a forma de melhor as ultrapassar. O julgamento dos pares sempre tão dispostos a expor de forma crua aquele pormenor que podia ser melhorado. A insatisfação relacionada com o material de que dispomos. A angústia de publicar o resultado do nosso trabalho. A comparação com as figuras de referência e com os ícones da fotografia.
A resposta a isso, só pode ser, conhecer o mais profundamente possível, as potencialidades, e de como as tornar reais, do material de que dispomos. É preferível ter um material menos evoluído ou menos actual, mas que nós tratamos por tu e em quem podemos confiar, do que estarmos artilhados com as últimas novidades do mercado (e elas surgem todos os dias) sem explorar todas as suas capacidades. O desenvolvimento de uma cumplicidade com a câmara e as objectivas é essencial.
No processo criativo, que envolve a fotografia de rua, a imagem do que podemos vir a fotografar, tem de estar composta previamente. O resultado e o quanto ficamos aquém da sua concretização, são o motor permanente do nosso aperfeiçoamento. A visualização crítica de outras imagens produzidas por nós ou pelos outros e a participação em grupos ou discussões, vai acelerar a nossa evolução. Considero, no entanto, que devemos tentar criar o nosso próprio estilo e melhorá-lo permanentemente. Devemos imprimir um cunho pessoal às imagens que vamos produzindo.
A antecipação e resposta, a possíveis obstáculos técnicos ou relacionados com o local, que possam surgir, contribuem para diminuir a possibilidade de falharmos os nossos objectivos. Conhecer ou reconhecer o local onde prevemos fazer fotografia de rua é uma vantagem. Olhar para a luz natural disponível e a sua orientação, permite que nos coloquemos de feição. Uma forma indirecta de usarmos os fotómetros que hoje tão bem equipam as câmaras é a realização de várias fotografias prévias, com diferentes parametrizações. É possível, com paciência e persistência, “esperar” que determinadas situações façam parte da nossa composição de forma enriquecedora. O treino de enfrentar com determinação mas equilíbrio e respeito quem está na mira da nossa objectiva vai abrir as possibilidades de captarmos momentos carregados de expressividade. Podemos criar e desenvolver cenários, onde nos movimentamos com facilidade e tranquilidade, fotografando-os de forma repetida e exaustiva. Nunca é de mais reforçar a vantagem, de conhecer e estudar, quem já fez caminho na realização da fotografia de rua e humildemente pedirmos e aceitarmos os juízos de fotógrafos mais experientes.
E a emoção de quem aprecia as fotografias também.
Uma boa fotografia de rua tem sempre uma história para contar. A sua interpretação pode e deve ser quase infinita. Cabe a quem fotografa, registar, luz, sombras, linhas, figuras animadas ou fixas, expressões e sentimentos, que vão compor algo que vai mexer com quem vê.
A fotografia de rua tem um papel cultural, na medida em que fixa momentos, que traduzem aspectos vivenciais de múltiplas realidades, dando-lhes uma visibilidade, que pode e deve ser enriquecedora para quem a vai apreciar.
É um grande incentivo, a ver e interpretar a realidade de uma forma diversa, acrescentando-lhe valor. Pode servir de estímulo aos fotógrafos e não só, de iniciarem os seus próprios registos e assim contribuírem para o enriquecimento da fotografia de rua.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico
ESPAÇO ALFA - Artigo de Saúl Jorge Lopes publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul de maio de 2021
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